A insanidade é a companheira secreta dos gênios? Embora não possamos realizar exames psicológicos naqueles que já estão mortos há tanto tempo, isso não impediu que historiadores especulassem sobre o estado mental de gênios mortos interpretando suas cartas pessoais, seus trabalhos e as declarações de outras pessoas. Aconteceu de alguns dos grandes gênios do mundo serem um tanto malucos. Na verdade, alguns cientistas alegam que uma porcentagem ainda maior de tipos criativos (poetas, pintores, músicos) foi afligida por transtorno bipolar do que a população geral. Acredita-se que algumas das mentes criativas mais renomadas, incluindo os escritores Mary Shelley, Virginia Woolf e Ernest Hemingway; os compositores Irving Berlin e Sergey Rachmaninoff; e os pintores Paul Gauguin e Jackson Pollock, sofreram da doença [fonte: Patient Health International].
Apesar da evidência de uma conexão entre gênialidade e loucura, ninguém provou que tal conexão existe de fato. Contudo, cientistas da Universidade de Toronto, no Canadá, descobriram que pessoas criativas possuem pouco a nenhuma inibição latente, a capacidade inconsciente de rejeitar estímulos sem importância ou irrelevantes. Como coloca Jordan Peterson, professor da Universidade de Toronto, “Isso significa que indivíduos criativos permanecem constantemente em contato com o fluxo de informação extra vindo do ambiente. Uma pessoa normal classifica um objeto e, em seguida o esquece, mesmo que aquele objeto seja muito mais complexo e interessante do que ela pensa. A pessoa criativa, por contraste, está sempre aberta a novas possibilidades [fonte: Universidade de Toronto]
Vamos dar uma olhada nesses gênios malucos – os famosos pensadores e artistas que sofreram de doença mental. Primeiro, vamos repassar o caso moderno de John Nash, cuja esquizofrenia foi sensacionalizada por Hollywood.
5. John Nash (1928 -)
O premiado filme “Uma Mente Brilhante” (“A Beautiful Mind”, 2001) popularizou a história de John Nash. Nash é um matemático e economista mundialmente renomado que lutou com sua esquizofrenia paranoide depois de surgir com contribuições significativas para o conceito da teoria dos jogos. A ideia do “Equilíbrio Nash”, que discute se os jogadores em um jogo podem beneficiar-se da mudança de estratégia de um deles, pode ser aplicada a vários campos, inclusive à economia. As forças armadas americanas até adotaram táticas baseadas em suas ideias para usar na Guerra Fria [fonte: Singh].
Embora o filme (baseado na biografia de mesmo nome de Silvia Nasar) toma liberdades com a história verdadeira da vida de Nash, ele de fato experimentou alucinações e delírios. Suas alucinações incluíram ouvir vozes, mas sem ver pessoas ou coisas que não estavam lá. Ele começou a ter delírios de grandeza, e acreditava que as maiores figuras do mundo o perseguiam [fonte: PBS]. Depois de 30 anos lutando contra o distúrbio e de passar muito tempo entrando e saindo de hospitais, Nash conseguiu se recuperar de forma significativa no final dos anos 1980. Em 1994, John Nash recebeu o Prêmio Nobel em Ciências Econômicas por seu primeiro trabalho com a teoria dos jogos.
Loucura é uma coisa boa
John Nash sugere que o pensamento irracional na verdade tem seus benefícios. Discutindo sua recuperação da esquizofrenia, Nash comenta que isso não é “inteiramente motivo de alegria” para ele. Explica: “Um dos aspectos disso é que a racionalidade do pensamento impõe um limite no conceito de uma pessoa sobre sua relação com o cosmos” [fonte: Nash]
4. Vincent van Gogh (1853 – 1890)
Pinturas de Vincent van Gogh como “A Noite Estrelada” (1889) e “Terraço do Café à Noite (1888)” são facilmente reconhecidas por suas pinceladas únicas e pela expressividade. Contudo, van Gogh ganhou popularidade somente após a sua morte. Hoje ele é considerado um dos maiores pintores de todos os tempos.
A vida de van Gogh foi uma vida torturada. Quase todo mundo sabe que o pintor cortou parte de sua própria orelha (e ele até fez questão de registrar-se após a automutilação no quadro “Autorretrato com orelha a cortada” (1889). Ele também supostamente bebeu terebentina (aguarrás) e tentou comer tinta [fonte: Mancoff]. Tragicamente, cometeu suicídio em 1890. Os autores D. Jablow Hershman e Julian Lieb propõem em seu livro “Manic Depression and Creativity” que van Gogh tinha transtorno bipolar. No livro “Touched with Fire”, Kay Redfield Jamison chega à mesma conclusão. Ela também discute a arte de van Gogh em relação à sua doença mental. Por exemplo, ela nota que os padrões sazonais típicos de humor e psicose estão alinhados com a produtividade de van Gogh, que também variava de tempos em tempos. Quando em crise, van Gogh tinha alucinações, tornava-se violento e não conseguia pintar. Outros acham que o pintor sofria de esquizofrenia [fonte: Delisi], como os irmãos Willemina e Cornellius. E há ainda uma tese que diz que van Gogh tinha epilepsia do lobo temporal, agravada pelo uso de absinto.
Seja qual for o diagnóstico correto, o fato é que a doença parece ter contribuído para a genialidade de van Gogh. Em muitos dos seus quadros é possível perceber o estado de humor de seu autor.
3. Edgard Allan Poe (1809 – 1849)
Mais conhecido por seu poema “The Raven”(O Corvo), o escritor Edgar Allan Poe escrevia compulsivamente histórias de detetives e de horror. Em seus contos tensos, ele dava bastante ênfase à forma e à estrutura. Seu conto “Os Assassinatos da Rua Morgue”, publicado em 1841, é chamado com frequência de primeira história moderna de detetives.
Apesar da habilidade como escritor, Poe tinha problemas com bebida, e cartas revelam que ele lutava contra pensamentos suicidas. As causas e as circunstâncias em torno de sua morte, aos 40 anos, são desconhecidas, mas talvez tenham a ver com insuficiência cardíaca ou com o alcoolismo. Baseada em sua interpretação das cartas de Poe, Kay Redfield Jamison especula que o escritor era maníaco-depressivo, um estado clínico conhecido hoje como transtorno bipolar. Em seu livro, ela argumenta que uma criatividade como a de Poe pode emergir de estados de loucura. Da mente doentia emerge uma perspectiva “cósmica” que deixa a essência criativa fluir, escreve Jamison.
O próprio Edgar Allan Poe parece ter visto a conexão entre criatividade e doença mental. Ele escreveu:
“Homens me chamaram de louco; mas a questão ainda não está definida, se loucura é ou não é a sublime inteligência — se muito disso é glorioso — se tudo isso é profundo — não emerge da doença ou do pensamento — dos humores da mente exaltada às expensas do intelecto geral” [fonte: Jamison].
2. Ludwing van Beethoven (1770 – 1827)
As contribuições de Beethoven para a música foram fundamentais. Sua intensidade apaixonada e criação brilhante levaram a música instrumental a um novo nível. Contudo, o famoso compositor teve uma vida dura. Criado por um pai alcoólico e violento, Beethoven era responsável pelo bem-estar de sua família batalhadora aos 18 anos. Um dos aspectos mais trágicos de sua vida foi sua surdez gradativa, que ocorreu entre seus 30 e 49 anos e pode ter sido resultado das surras dadas pelo pai. Extraordinariamente, ele foi capaz de compor alguns de seus trabalhos mais estimados depois da perda da audição.
Seu esforço interno está documentado nas cartas que escreveu para seus irmãos, em que ele discutia seu namoro com o suicídio. Os autores Hershman e Lieb propõem em seu livro que Beethoven provavelmente lutava com o transtorno bipolar. Além disso, François Martin Mai chama a atenção para a possibilidade de ele sofrer especificamente de depressão bipolar no livro “Diagnosing Genius”. Mai afirma que, apesar de suas tendências depressivas, Beethoven tinha períodos de intensidade e vigor consistentes com o transtorno bipolar. Exames e testes do cabelo de Beethoven recentemente revelaram uma grande quantidade de chumbo [fonte: Wash]. Isso pode ter desencadeado não só sua doença mental, mas também as dores advindas de problemas digestivos das quais ele reclamava com frequência.
1. Isaac Newton (1642 -1727)
Com numerosas e extensas contribuições para a física e a mecânica, Isaac Newton é universalmente conhecido como um pensador brilhante. De fato, pesquisas com cientistas da duas áreas e com o público mostram uma concordância de que Newton até ultrapassa Einstein em influência [fonte: The Royal Society]. Algumas de suas notáveis contribuições incluem a invenção do cálculo, a explicação da “gravitação universal”, o desenvolvimento de leis do movimento e a construção do primeiro telescópio refletivo.
Apesar de seus feitos, Newton sofria de tendências psicóticas e alterações de humor (incluindo períodos de empolgação desenfreada), e com frequência tinha dificuldades de lidar com isso [fonte: Enciclopédia Britânica, Salas]. Hershman e Lieb também teorizam em seu livro que Newton provavelmente sofria de transtorno bipolar. Além disso, suas cartas delirantes serviram para dar credibilidade à teoria de que ele era esquizofrênico [fonte: Glover]. O pai de Newton morreu antes dele nascer, e ele ficou separado da mãe entre os 2 e os 11 anos de idade. Seu distúrbio mental pode ter sido resultado dessa prolongada experiência traumática na infância [fonte: Enciclopédia Britânica].
Um ditado popular diz: "De génio e louco todos temos um pouco". Mas alguns têm muito? O tempo, energia e atividade a desenvolver criatividade pode faltar para outras capacidades? Muitos autistas são génios em certas faculdades? Génios de memória deficientes na prática podem ser o resultado do desenvovimento desequilibrado das faculdades humanas?
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