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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O mistério da 'Moça do Táxi' chega aos 80 anos



Josephina Comte agora também dá suas “voltinhas” no mundo virtual (Foto: D’Angelo Valente)

Josephina Comte faleceu em 1931, em Belém, aos 16 anos de idade, sendo que ainda hoje a vida - e também a morte - da jovem são envoltas em mistério.
Até aí, nada de novo. Mas o que se pergunta é: ela morreu mesmo? Tecnicamente sim, pois seus restos mortais jazem no bairro do Guamá, sendo que seu túmulo, no cemitério Santa Isabel, é um dos visitados e cultuados, com direito a flores, placas de agradecimento e outras manifestações de carinho por pessoas que a veem como uma santa “milagreira”.
Por outro lado, são tantas as histórias e estórias contadas, criadas, aumentadas e propagadas sobre a jovem que chega-se a acreditar que ela ainda está viva, e muito, circulando pelas ruas de Belém em longos passeios de táxi, assombrando taxistas.
O mito da “Moça do Táxi” é um dos mais conhecidos do imaginário paraense e, ainda hoje, desperta curiosidade.
Essa linha imaginária entre realidade e ficção, por sinal, completou 80 anos em 2011 e, ao que parece, não tem data para acabar.
Prova disso é que a jovem, em Belém considerada uma “visagem”, além das narrativas orais, também é protagonista de relatos em livros, curtas cinematográficos e mesmo no virtual universo da internet. Sim, Josephina Comte tem até “perfil” na rede social do Twitter e interage, a cada dia, com centenas de pessoas. (Será que ela morreu mesmo?)
Um dos traços mais significativos do mito é a valorização da memória de uma Belém de tempos idos.
Segundo o professor Flávio Silveira, doutor em Antropologia Social na UFPA, “quando se passeia pelo Comércio, por exemplo, e se encontra um casarão antigo, você sente que ali há uma memória gravada, marcas da Belém passada, registrada na paisagem e em conversas de moradores mais antigos”, comenta o professor.

“BALADEIRA” MISTERIOSA

O mistério que cerca a curta vida da “Moça do táxi”, à semelhança dos “causos” ainda hoje contados sobre ela, parece não ter fim.
Sabe-se apenas que ela era uma adolescente que, nos dias de hoje, seria uma “baladeira” de plantão: não perdia um baile de carnaval na Belém do começo da década de 1930.
Conta-se ainda que todos os anos o pai lhe dava, como presente de aniversário, uma volta de táxi pela cidade.
Nada mais natural, não fosse o detalhe - digamos assim - intrigante: a maioria dos passeios teria acontecido após sua morte.
A versão varia, sendo que em uma delas a jovem pega o táxi em frente ao cemitério Santa Izabel, passa pelo Ver-o-Peso, rodovia Augusto Montenegro, Praça da República e muitos outros pontos turísticos, sendo que se admira pelas mudanças ocorridas na cidade, em relação a anos atrás.
A corrida termina na frente da casa da adolescente, na avenida Governador José Malcher, à época, 1931, Estrada da São Jerônimo.
Ela explica ao motorista que aquilo é um presente de aniversário e pede que ele volte no dia seguinte para cobrar pelo serviço.
Quando volta, fica apavorado por descobrir que a jovem que vê numa foto na parede, a mesma da corrida de táxi da noite anterior, já morreu há anos.
Alguns desses motoristas enlouquecem, outros têm febres violentas por meses seguidos e outros simplesmente desaparecem.
O itinerário também varia: há outra versão que diz que ela pega o táxi em frente de casa, dá a volta na cidade e desembarca em frente ao cemitério, sumindo em seguida.
Josephina teria ficado conhecida como a “Moça do Táxi” por causa de um taxista que cultuava seu túmulo no cemitério, segundo uma versão atribuída ao escritor Walcyr Monteiro, autor do livro “Visagens e Assombrações de Belém”, que, lançado em 1972 e já várias vezes reeditado, conta mais de uma dezena de histórias sobrenaturais da cidade.
Se a “vida após a morte” de Josephina já desperta tantas controvérsias, o mesmo se aplica ao momento de sua “passagem para o outro plano”.
Monteiro diz que teve contato com uma irmã da jovem, na década de 1960, que lhe relatou que Josephina morreu de tuberculose.
Contudo, narrativas de rua garantem que “a morte teria acontecido dentro de um carro, no Largo da Sé, por meio do disparo de um sentinela, que teria pedido para o carro parar, não foi atendido, e acabou atirando”, diz o escritor.

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