O bairro de Garbatella, em Roma, tecnicamente pode ser classificado como “conjunto habitacional”, mas parece uma versão italiana de uma vila britânica arborizada. O Rei Vitor Emanuel III fundou a colônia em 1920 para acomodar 50 mil trabalhadores rurais que migraram para Roma. Assim como o resto da cidade, Garbatella tem uma quantidade impressionante de gatos vira-lata. Mesmo assim, quando um deles atravessou o meu caminho em frente ao escritório de Don Gabriele Amorth, o “presidente honorário vitalício” da Associação Internacional de Exorcistas, tive a impressão que foi um sinal divino. Não baixe a guarda. O diabo está em em toda parte.
Don Amorth entrou na sala usando um hábito preto e segurando uma pasta de couro grande, que abriu depois de me cumprimentar. Dentro dela estava a maioria de seus livros (ele escreveu dez, que foram traduzidos para mais de 40 idiomas), uma cópia da Madre di Dio (uma revista mensal dedicada à Virgem Maria que ele editou por muitos anos), uma amostra de suas ferramentas de exorcismo (falo mais sobre isso adiante) e um saco de pregos, parafusos e outros objetos de metal.
Don Gabriele Amorth ao lado de uma estátua da Virgem Maria, uma figura que ele estudou nos seus primeiros anos na ordenação. Don Amorth também foi editor-chefe da Madre di Dio, uma revista mensal dedicada à Virgem Maria.
“Tenho dois quilos de pedaços de metal cuspidos por pessoas possuídas pelo diabo”, disse. “Às vezes eles saem pelo reto. Cacos de vidro também. Posso assegurar que eles se materializam logo que saem da boca e nunca estão cobertos com saliva ou sangue. Se você tirar um raio X de uma alma possuída, não vai encontrar vestígios de nada disso em seus órgãos. Aparecem do nada, a alguns milímetros dos lábios, embora as pessoas normalmente confessem sentir a dor que os objetos causariam dentro delas”.
Don Amorth afirma já ter feito milhares de exorcismos em sua vida – “Parei de contar nos 70 mil”. Isso não significa que ele exorcizou 70 mil pessoas, apenas que os demônios são particularmente teimosos e os 2 mil ou 4 mil indivíduos que ele livrou do mal frequentemente exigiam dezenas de sessões.
Don Amorth mostra alguns dos livros que escreveu e um saco de pregos e parafusos cuspidos por pessoas possuídas durante os exorcismos. Cheguei a pegar alguns na mão, o que deixou nosso cinegrafista enojado.
Acenei com a cabeça e comecei a fazer minha longa lista de perguntas, mas ele as ignorou. Percebi que a audição precária de Don Amorth faria com que só ele falasse. “O diabo age de duas maneiras)”, disse. “Ele tem uma atividade ordinária e uma extraordinária. Sua atividade ordinária é tentar o homem para o mau, levá-lo à tentação, ao pecado, pressioná-lo para quebrar a lei divina. Sua atividade extraordinária (muito rara) é provocar distúrbios malignos nas pessoas.”
A segunda classificação de mau demoníaco é a obsessão ou tormento. Isso acontece quando as forças malignas perturbam alguém por fora em vez de habitar diretamente sua alma. “Pense no Padre Pio [santo estigmático]. Ele era espancado pelo diabo até sangrar e jogado para fora de sua cama toda vez que dormia, mas não estava possuído. Estava simplesmente atormentado. Ou pense em pessoas que ficam obcecadas com uma ideia que se infiltra por suas almas e as levam à loucura ou até mesmo ao suicídio. Isso é tormento demoníaco.”
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