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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Capela da Santa Cruz dos Enforcados




 1821. Vésperas da independência política do Brasil. O Primeiro Batalhão de Caçadores em Santos sublevou-se. Líder da revolta foi o cabo Francisco José das Chagas (o Chaguinhas). Os motivos: aumento do soldo e igualdade no tratamento de soldados brasileiros e portugueses. A sentença do Chaguinhas: a morte pela forca.
São Paulo vivia sob o governo provisório: um acordo que unia desde conservadores, como João Carlos Oeynhausen e Francisco Inácio de Souza Queiroz, até liberais como os Andradas. A sedição de Santos foi duramente reprimida por este governo. A cidade de São Paulo também aproximava-se de um momento histórico que a alçaria à condição de palco da proclamação da independência e da Aclamação do Imperador D. Pedro I, nas dependências do Pátio do Colégio, por obra e voz do Padre Ildefonso Xavier. Um dos motivos que trouxeram o imperador à terra paulista foi a bernarda de Francisco Inácio, conspiração e levantamento da facção conservadora desse membro da família Souza Queiroz.
Mas ainda corria o ano de 1821. O Chaguinhas vivia na lembrança dos paulistanos como o menino querido daquela cidade do início do século XIX. Cidade provinciana. Ensimesmada. Colonial. Crescera o menino na rua das Flores (atual Silveira Martins, pois a atual rua das Flores é a antiga travessa das Flores). Pertinho da Igreja do Carmo. Crescera como menino pobre, sem ofício. Sempre às ordens para pequenos trabalhos. Nadando pelo Anhangabaú. Correndo pelas ruazinhas estreitas, como nos diz Nuto Sant’anna em seu romance histórico,Santa Cruz dos Enforcados. Conseqüência natural para o Chaguinhas (e uma provável oportunidade de vida) foi seu engajamento militar. Em Santos.
Sua condenação chocou a cidade. A forca foi erguida no atual Largo da Liberdade. No dia 20 de setembro de 1821 houve a execução. Primeiro foi o soldado Contindiba, seu companheiro de infortúnio. Depois...a corda arrebentou e o Chaguinhas caiu, lépido e vivente. O povo, que a tudo assistia, gritou: “Liberdade!”. Era o costume, desde priscas eras, perdoar-se o condenado, ou comutar-lhe a pena, em casos semelhantes. Era a vontade de Deus, mais poderosa que a dos homens.
Mas o governo, consultado, foi intolerante. Que se o executasse de novo. E assim se fez. Mas eis que a corda arrebentou de novo. E o povo gritou: “Milagre!”. Mas o Chaguinhas foi enforcado na terceira vez!
Tamanha injustiça, associada ao milagre, gerou uma devoção imediata naquele local. Velas foram acesas e uma cruz foi erguida. Dizem que nem vento, nem chuva apagavam as velas! Depois de muito tempo erigiu-se uma capela, em 1887 (segundo Miguel Milano em seu livro Fantasmas de São Paulo, p.23). Mas a documentação primária diz que sua primeira missa celebrou-se em 1 de maio de 1891, ano de sua fundação. Sua festa passou a se dar no dia 3 de maio, pois em abril de 1911 a Irmandade de Santa Cruz dos Enforcados solicitou ao vigário foral do arcebispado (São Paulo já se tornara sede de Arquidiocese nessa época), a permissão para a procissão e a festa de 3 de maio.
Conforme documentos existentes no Arquivo da Cúria Metropolitana, a capela sofreu reformas de vulto nos anos vinte. No início desse ano jubileu (2000), houve um incêndio provocado por uma quantidade enorme de velas que uma devota ali depositou. O que não é novidade na história dessa capela, pois outros pequenos incêndios ali ocorreram desde o início desse século XX. Felizmente, o templo permaneceu intacto.
A Capela continua sinistra por fora, mas muito simples e acolhedora por dentro. Capela de Santa Cruz das Almas dos Enforcados. Ou simplesmente “Igreja das Almas”.

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