“ZODÍACO”; “ASSASSINO DO ZODÍACO” (“ZODIAC KILLER”) (identidade desconhecida, americano)
MORTES: 5 conhecidas; ele afirmou serem mais de 30
HISTÓRIA
Assim como Jack, O Estripador, o “Assassino do Zodíaco” entra na galeria dos serial killers que levantaram muitas dúvidas sobre sua real identidade, mas esta nunca foi confirmada. Mais de 2500 pessoas, durante toda a evolução do caso, passaram pela lista de suspeitos. Claro, alguns mais suspeitos que outros. Em parte, a culpa disto foi do desencontro entre os vários órgãos responsáveis pela investigação das mortes. Em parte, o mérito é do próprio Zodíaco, que agia de forma a deixar realmente poucas pistas. Pelo menos, o tipo de pistas que hoje seriam facilmente convertidas em provas, por exemplo através de exames de DNA.
Esse nome, “Zodíaco”, foi ele mesmo quem se deu, em uma das várias cartas que mandou a jornais.
Em outubro de 1966, Cheri Jo Bates, uma estudante, foi morta com facadas e outros golpes.
O método para abordá-la foi peculiar. Ele mexeu no seu carro, causando um problema, enquanto ela não estava presente. Quando voltou, ele ofereceu ajuda.
O corte na garganta era profundo, provavelmente uma tentativa de decaptação.
Aparentemente, um crime passional – nada havia sido roubado, ela não fora estuprada.
Contudo, no mês seguinte a polícia recebeu uma carta, intitulada “Confissão”, onde havia a ameaça de mais mortes. “Eu passo as noites pensando sobre a minha próxima vítima.” E citava algumas pessoas – “Talvez será a bela loira que trabalha de babá perto da pequena loja e que desce a escura alameda todo dia às 7 da noite.”. Ou a garota que disse-lhe “não” na escola. Talvez não seria nenhuma delas, mas, fosse quem fosse, cortaria seus órgãos genitais e espalharia pela cidade. “Então, não torne isto fácil para mim. Mantenham suas irmãs, filhas e esposas fora das ruas e das alamedas.” E então, contava os detalhes do assassinato de Cheri, chamando-a de estúpida pelo modo como caiu na história. A certo momento, “eu disse a ela que tinha chegado a hora. Ela perguntou: ‘Que hora?’ A hora de você morrer.” Pelo restante da carta, aparentemente ele a conhecia e havia tido sido de alguma forma rejeitado por ela. “Eu não sou doente. Eu sou insano.”
No aniversário de seis meses do crime, mais cartas, incluindo uma para o pai de Cheri, assinada com um símbolo que parecia uma fusão de uma letra “z” com o numeral “3″.
Entretanto, ainda hoje há dúvidas se este crime pode ser atribuído ao Zodíaco. Primeiramente, porque em suas manifestações ele não falou deste crime. Segundo, porque a similaridade com os outros crimes não é total – aliás, entre os próprios crimes assumidos há alguma disparidade. Por exemplo, um taxista assassinado a tiros, dois casais atacados a tiros, um casal a facadas etc. quem levantou a suspeita sobre o Zodíaco, neste crime, foi o jornalista Paul Avery, do San Francisco Chronicle, retratado no filme “Zodíaco!” (de 2007), baseado no livro de Robert Graysmith, cartunista do mesmo jornal, que ficou obcecado com a história do assassino e também é retratado no filme, como o grande responsável pela descoberta da verdadeira identidade do assassino.
Os assassinatos assumidos pelo Zodíaco começaram mesmo em dezembro de 68, em uma outra cidade, muito pequena. As primeiras vítimas foram um casal, que, perto de um lago, namoravam dentro do carro. Era o primeiro encontro deles, aparentemente. Vários tiros foram disparados em direção ao casal. As vítimas aparentemente foram escolhidas ao acaso, porque um outro casal havia sido seguido por um carro desconhecido pouco tempo antes.
Cerca de seis meses depois, no feriado de 4 de Julho, mais um casal é baleado, em situação semelhante. O homem sobrevive. O assassino havia parado seu carro perto ao do casal, depois saiu e então voltou, alguns minutos depois, quando fez os disparos. O sobrevivente, Michael Mageau, viu o rosto dele. Não morreu por sorte, porque quando Zodíaco ia embora, ouviu um som emitido por ele, retornou e deu mais dois tiros em cada. Sua companhia, Darlene Ferrin, que era casada com outro homem, também não morreu na hora, mas apenas na ambulância que a socorria.
Enquanto isso, Zodíaco ligava para a polícia e falava que tinha matado duas pessoas. De um telefone a poucos quarteirões da própria polícia.
O final do mês de julho de 69, três jornais receberam uma carta. Ela vinha assinada por um símbolo, um círculo cortado por duas retas perpendiculares, como se fosse um alvo, e assumia os crimes contra os casais, contando detalhes que só a polícia saberia. Ameaçava que, se não fossem publicadas no dia seguinte, muitas outras mortes ocorreriam. Além disto, traziam cada carta destas, uma parte de uma escrita em código. Segundo o autor, neste código estava a sua identidade.
Havia uma mistura de símbolos aí: caracteres gregos, código Morse, sinalização para navios e alguns símbolos astrológicos.
Um professor e sua esposa decifraram o código em alguns dias, apesar de todo o trabalho desenvolvido pelos órgãos policiais. “Eu gosto de matar pessoas porque é muito divertido. É mais divertido que matar na em caça na floresta porque o é o mais perigoso animal de todos. (…) É melhor que transar com uma garota. A melhor parte é esta: quando eu morrer, renascerei no paraíso e todos os que eu matei serão meus escravos. Não darei a minha identidade porque se não vocês tentaram parar a minha coleta de escravos (…)”
Um chefe de polícia disse não estar convencido de que o autor da carta era mesmo o assassino e pediu que ele escrevesse dando mais detalhes. Ao que foi imediatamente atendido. Na resposta, pela primeira vez ele se chamou de “O Zodíaco”.
Em setembro, mais um casal foi atacado. Novamente, apenas o homem sobreviveu.
Os dois faziam um piquenique, pela tarde, e desta vez a arma foi uma faca, apesar dele portar também uma arma. O assassino agora usava também uma vestimenta própria, toda preta, incluindo um capuz, e com o seu símbolo desenhado na região peitoral. Poucos momentos antes, o casal o havia visto, sem a roupa. Ele a colocou, e reapareceu, com o revólver. Pediu o dinheiro e a chave do carro. Disse ser foragido de uma determinada cidade e que iria para o México. Falou também que tinha matado um guarda. (Pesquisas subseqüentes não encontraram registros de alguma fuga ou de assassinato na prisão da tal cidade, mas a vítima não tivesse certeza do nome que tinha ouvido).
Então, amarrou os dois e começou a agredi-los com a faca. Cecelia Shepard, na verdade, não morreu na hora, mas apenas dois dias depois. Havia levado ao menos 10 golpes.
O Assassino do Zodíaco saiu da cena do crime e foi em direção ao carro do homem, e, com uma caneta, escreveu na porta a data dos três crimes. Uma hora depois, ligou para a polícia.
Pegadas foram encontradas, e sugeriam um homem pesado utilizando uma bota militar.
Em outubro, um taxista foi assassinado, à noite. Um tiro na cabeça. Garotos em um prédio em frente ouviram, olharam e ligaram para a polícia. Foi descrito aos policiais que tratava-se de um homem negro. Estes passaram por um homem branco, na redondeza, e não o detiveram. Provavelmente era o Zodíaco.
Havia uma impressão digital (assim como em algumas cartas), mas esta não foi encontrada em nenhum registro do FBI nem associada a algum dos suspeitos. Aliás, inicialmente o crime não foi atribuído ao serial killer. Isto só ocorreu quando ele mandou uma carta assumindo o assassinato. Para não deixar dúvidas de que era realmente o autor, desta vez ele usou um novo método: antes de fugir da cena do crime, rasgou um pedaço da camisa do taxista, encostou-a no sangue, e a enviou ao jornal, junto com a carta. Nesta, dizia estar pensando em atacar um ônibus escolar da próxima vez. Esta ameaça só foi divulgada pelas autoridades uma semana depois, pois temiam o pânico. E que, realmente ocorreu, associado ao grande espaço que a mídia abriu ao caso.
Em novembro, em uma carta, com um singelo “PS” ele pedia: “Vocês podem colocar este código na primeira página? Eu fico terrivelmente solitário quando sou ignorado, e solitário eu posso fazer minha coisa!!!!!!!”
Em outra carta, disse que havia mudado a maneira de “arrumar escravos” porque a estava contrariado com o fato da polícia falar mentiras sobre ele, ou ficarem achando que os crimes eram frutos de assalto etc. Dizia ainda que nunca seria pego, porque era muito mais inteligente que a polícia. Nesta carta, falava ainda que eram tolos se achavam que ele faria o que disse, com o ônibus. Falava agora de uma “máquina de matar”, em grande escala. Ao lado do seu símbolo na assinatura, cinco “x”, talvez querendo indicar o número de vítimas fatais – o que excluiria Cheri, de 1966. Contudo, no Natal, um advogado, Melvin Belli, recebeu uma carta do assassino, onde ele pedia ajuda, ou então acabaria fazendo sua nona vítima. “Estou com medo de perder o controle novamente.” O caso parou na mídia e o advogado não foi mais contactado. Antes, já tinha pedido, em outra carta, contato com ele.
Zodíaco sumiu por alguns poucos meses.
Em março, uma mulher dirigia pela estrada, com seu bebê. Foi abordada por outro carro, cujo motorista que disse que o dela tinha problemas com a roda. Ele ofereceu-se para ajudar, mas na verdade soltou a roda. O carro dela estragou pouco adiante, e ele ofereceu carona. Então, ela ficou com medo, pois além disto ele falava coisas estranhas. Tendo uma oportunidade, ela saltou do carro com seu bebê e fugiu. Ao chegar na polícia, viu um cartaz de “procurado” e reconheceu o homem. Era um retrato falado do Zodíaco.
Contudo, a vítima também apontou como autor dois outros suspeitos apresentados a ela, além de ter contado versões diferentes da história em cada entrevista que dava.
Em abril, uma nova carta, que falava que já eram 10 as vítimas, e dizia esperar que a polícia se divertisse tentando descobrir quem foram as últimas. Havia novas ameaças sobre a bomba e falava que ficaria feliz se visse as pessoas usando broches com seu símbolo, já que usavam os de “paz-e-amor”, “black power” etc.
Em junho, em uma carta, disse ter matado um policial, já que as crianças estavam de férias. Contudo, a polícia tinha uma testemunha este crime, que viu um homem negro matá-lo. Ou seja, aparentemente Zodíaco estava assumindo outras mortes como suas, para aterrorizar.
Em julho, uma carta com uma letra distorcida de um musical. Dois dias depois, uma carta onde aparecia “Zodíaco 13″ e “Polícia 0″. Sumiu por um tempo, voltou a escrever em outubro. No fim do mês, no Halloween, um cartão para o jornalista Paul Avery.
O caso foi amplamente noticiado pelo próprio jornal onde Avery trabalhava e, entre as várias cartas que ele recebeu, estava a que sugeria a investigação do caso de Cheri.
Cinco meses sem cartas do Zodíaco. Em março, mais uma. Desta vez, 17 a 0. Sobre esta carta, houve suspeitas de que teria sido escrita pela mesma pessoa que mandou a carta anônima a Avery, falando da morte de Chery, e até mesmo dúvidas se não seria um detetive do caso, David Toschi, que também aparece bastante no filme de 2007. uma semana depois, um outro cartão para Avery. E então, um sumiço de quase três anos.
No começo de 74, a contagem já estava “37 a 0″.
Pouco tempo depois, uma carta reclamando do jornal abrir publicidade ao filme “Terra de ninguém”, que retratava um caso real, dos assassinos Charles Starkweather e sua namorada Caril Ann Fugate, que agiram em 1959. A carta falava que a glorificação da violência, naquele momento, era deplorável (“não que em algum momento fosse justificável”). Irônico, mais uma vez, certamente. Assinava como “um cidadão”. Uma outra carta reclamava de um colunista do jornal, dizia que ele deveria procurar um psiquiatra, e assinava como “O Fantasma Vermelho”. Estas duas cartas não foram confirmadas com certeza como sendo do Zodíaco, mas também não há evidências fortes de que não sejam.
Apenas em 78 uma nova carta apareceu. Na época, acreditou-se na sua procedência, mas hoje a maioria duvida de que seja mesmo do Zodíaco. Achou-se novamente que o detetive Toschi era o autor – porque era citado e mesmo porque ele havia tido uma conduta algo exibicionista no caso, e agora estava fora dos holofotes. Era curta e terminava assim: “Estou esperando um bom filme sobre mim. Quem me interpretará. Estou agora no controle de tudo.”. A contagem: Zodíaco = suponham (“guess”); polícia = 0.
Um outro suspeito de autoria era Robert Graysmith, que havia escrito seu livro e tentava publicá-lo, sem sucesso (só foi conseguir nove anos depois).
O número real de mortes do Zodíaco é incerto. Até mesmo o casal atacado com uma faca alguns acham que pode não ter sido ele – apesar da roupa. Isto porque ele não confirmou em detalhes o crime, como fez com os outros. Já o próprio, de acordo com as cartas que quase indubitavelmente são de sua autoria, afirma, na última, que foram 37. se isto for verdade e se ele matou mais alguém após isto, seriam no mínimo 38 vítimas.
Sua identidade nunca foi confirmada. A determinado momento da investigação, Arthur Leigh Allen apareceu como um dos suspeitos. Das quase 40 impressões digitais encontradas nas cartas e nas cenas do crime que não puderam ser atribuídas a pessoas não suspeitas, as de Allen não bateram com nenhuma. Isto, contudo, não prova que não era ele o assassino. No livro de Graysmith, ele conclui que um tal de “Robert Hall Starr” é o Zodíaco. Starr seria, na verdade, um pseudônimo usado no lugar do nome de Allen, pois a descrição dos dois seria coincidente. Allen já era culpado por molestar crianças, e morreu em 92. Em 69, já estava na lista de suspeitos, mas, naquele tempo, dezenas de outras pessoas também estavam. Foi descartado porque seu tamanho não batia com a descrição feita à polícia.
Em 71, Allen voltou a ser investigado. Ele teria tido uma conversa com alguém, e esta pessoa falou a outra que falou à polícia. Allen haveria dito, nesta conversa que teria ocorrido em dezembro de 68 (ou seja, na época em que os crimes começaram), ter gostado muito da história “The most dangerous game”, que falava de um homem em que matava pessoa, e dito que se fosse matar, escolheria namorados, e usaria uma lanterna presa à arma (como o Zodíaco, em uma carta, disse que fez – e o sobrevivente do carro falou que foi usado mesmo uma lanterna). Também teria dito algo sobre matar crianças saindo de um ônibus escolar (Zodíaco também falou assim). Por fim, falou sobre mandar cartas à polícia e que poderia se intitular “Zodíaco”. A história seria bastante convincente, não fossem alguns motivos: Allen havia tido algum problema com o denunciante anos antes, havia tocado sua filha de modo inapropriado. Além disso, porque teria falado desta conversa apenas dois anos depois? O denunciante havia se mudado do estado em janeiro de 69, mas no meio do ano o caso tomou proporções grandiosas, e seria impossível não ter ouvido falar até 71. Por fim, sua história foi mudando e aumentando a cada depoimento que dava.
Por isto, até hoje considera-se que não existem evidências com força de prova de que Allen tenha mesmo sido o Zodíaco. Contudo, que ele tinha alguma espécie de problema mental era inegável: pedófilo, tinha várias armas e estudava saúde mental por conta própria. Depois, parou mesmo em um hospital psiquiátrico. Em 69, após ser interrogado, saiu falando que era um dos suspeitos.
Apesar de toda a desconfiança sobre as intenções do denunciante, em 71, resolveram interrogar Allen. Ele mostrou bastante conhecimento sobre os casos, mas nada que não estivesse nos jornais. Negou a tal conversa, mas disse que realmente havia gostado do livro “The most (…)”. Além disso, usava um relógio suíço da marca Zodíaco, cujo logo era igual ao das cartas – disse que havia ganhado da mãe, no Natal de 67.
Somente em setembro de 72 foi conseguida autorização para revista da casa dele – na verdade, um trailer. Nada de importante foi encontrado. Testes compararam sua escrita com a do Zodíaco. E não se achou semelhança. Também foi submetido ao “detector de mentiras” (polígrafo) – e passou no teste.
Muitos investigadores acham que Graysmith exagerou algumas ligações entre Allen e o Zodíaco.
Em 90, um homem que estava sendo preso por roubo de carro disse que, anos antes, Allen havia dito-lhe que estava indo matar um motorista de táxi. Um investigador resolveu ir em uma propriedade dele que não havia sido revistada. Achou material para fabricação de bombas, muitas armas – e o relógio. Contudo, ainda não foi suficiente. E, novamente, havia dúvidas pairando sobre a autenticidade da denúncia – Allen já havia sido preso justamente por ter batido no denunciante, anos antes.
Após a morte de Allen, a pesquisa sobre ele não se encerrou – afinal, o caso foi traumático para o país e para a própria polícia. Havia amostras do seu tecido cerebral guardadas, e foi tentado coletar-se DNA de saliva atrás dos selos das cartas. Havia apenas fragmentos, nas cartas, e o resultado foi negativo.
É provável que a dúvida sobre o verdadeiro Zodíaco nunca seja solucionada.